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segunda-feira, 4 de maio de 2015

Confissões de uma partida





A folha de papel é meu maior confessionário, aqui exploro todos os meus sentimentos, falo sem medir nenhuma palavra, sem medo de ser julgada, sem olhares de observância e não sendo mal entendida. Deixei muitas coisas partir, e o que me restou das partidas foram às folhas escritas dos momentos pouco vividos e do que poderiam ter sido, as lembranças e o coração partido e a música sonora do silêncio que ecoa nos meus ouvidos deixando a partida mais presente do que quando era presente.
Deixei-lhe partir, mas restou-me o pecado o duro pecado a sina de todo filho de Deus, o sabor já foi perdido, o sabor da pureza do amor genuíno e da inocência que era de criança, das bonecas e as tardes que eram dedicadas a passear de bicicleta já se foram, se foram para nunca mais voltar. Os sonhos da adolescência ainda existem e estão mornos e frios, mas existem, não é a mesma coisa, não tem o mesmo sentido, não é olhado com os mesmos olhos de empolgação na qual o limite era somente o Céu.

Os sorrisos não são mais os mesmos, a comida não tem mais sabor, as orações são cheias de lamentações e reclamações do passado vivido, do presente perdido e das lágrimas derramadas diante de Deus, que possa servir pelo menos para lavar os pés do Senhor. Tudo está comum, nada novo, está como um móvel velho e uma louça antiquada para os parâmetros do que eu digo que é uma nova vida, nada novo, mas tudo diferente no meu interior, a luz está meio apagado e sem ventilação, tomada apenas de um silêncio que me parece falso e de uma tranquilidade enganosa.

Uma parte partiu com minha permissão e outras partiram porque era da idade. Tudo que deixamos partir leva um pouco do nosso “eu”, leva um segredo e um motivo estúpido, leva uma explicação que poderia ter deixado, leva motivos que poderiam ter sido escritos de outra maneira, e quando somos escolhidos por alguém que não permite que possamos mais fazer parte de momentos da sua vida, e nos manda partir, isso porque mandamos também essa pessoa partir tomada por nossas escolhas.

Mesmo querendo voltar no tempo e escolher de novo, corro o risco de escolher igual. Deixei o amor partir e ele partiu e me deixou partir. Essas partidas sem despedidas, sem um adeus e nenhum até logo, simplesmente partiu deixando-me sem saber se um dia volta, e eu fico apenas no quiçá.

Uma parte de mim partiu se perdeu nesse universo de informação, dúvidas e incertezas. E o que me resta? Apenas o resto.
(Geo Feitoza ) 

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